A Santa nasceu em Abellin, pequeno povoado a meio caminho entre Haifa e Nazaré, a 5
de janeiro de 1846. Era filha do casal Jorge Baouardy e Mariam Chahyn,
fervorosos católicos palestinos. Eles haviam obtido a graça de seu nascimento
após uma peregrinação a pé, percorrendo uma distância de 170 km até Belém, ao
local onde nasceu o Menino Jesus. A menina foi batizada e crismada no mesmo
dia, segundo o rito católico melquita, recebendo o nome de Mariam. Um ano
depois nasceu-lhes um menino, Baulos (Paulo).
Em 1848, os
pais de Mariam morrem um após o outro. Segundo o costume oriental, as
crianças foram repartidas entre os parentes. Baulos foi adotado por uma tia
materna de um povoado vizinho, e ela acolhida por um tio paterno abastado.
Aos 8 anos faz sua primeira comunhão. Alguns anos depois ele se mudou para
Alexandria,
Egito, levando-a consigo.
Conforme o
uso oriental, seu casamento foi ajustado e quando completou 13 anos lhe
disseram que chegara o momento do casamento. Porém, Mariam já sentia um chamado
de Deus e não desejava se casar, e comunicou isto aos tios. Nem as
humilhações, nem os maus tratos puderam fazê-la mudar sua decisão.
Após três
meses, ela visitou um velho criado da casa de seu tio para que este enviasse
uma carta a seu irmão, que vivia na Galileia, para que viesse ajudá-la.
Ouvindo a narração de seus sofrimentos, o criado, que era muçulmano,
exortou-a a converter-se ao Islã. Mariam respondeu com ênfase: "Muçulmana
eu? Jamais! Sou filha da Igreja Católica e espero permanecer assim por toda
vida!" Enfurecido, o homem deu-lhe um violento pontapé que a
derrubou ao chão, e, com uma cimitarra, deu-lhe um golpe na garganta. Crendo
que ela estava morta, envolveu-a num lençol e abandonou-a em uma rua escura.
Era o dia 8 de setembro.
A própria
Mariam contaria muitos anos mais tarde que, como num sonho, lhe parecia ter
entrado no Paraíso onde viu a Virgem, os Santos e também os pais e a Gloriosa
Trindade. Ouviu então uma voz que lhe disse: "O teu livro ainda não
está todo escrito".
Acordando,
se encontrava numa gruta onde passou vários dias com febre, sendo assistida
por uma jovem senhora que parecia ser uma religiosa e que vestia um véu azul.
Esta a atendia, alimentava e fazia dormir. Depois de quatro semanas, aquela
senhora conduziu-a a igreja dos Franciscanos, deixando-a lá.
Curada, mas
só, pois não poderia voltar para sua família adotiva, com o ajuda de um
franciscano Mariam se colocou como doméstica a serviço de famílias não
abastadas em Alexandria, Beirute, Jerusalém. Nesta cidade fez o voto de
castidade perpétua no Santo Sepulcro. Em 1863, a família Nadjar, para a qual
trabalhava, se transferiu para Marselha, França, levando-a consigo.
Em 1865,
Mariam entrou em contato com as Irmãs de São José de Marselha. Tinha 19 anos,
mas só parecia ter 12 ou 13. Falava mal o francês e possuía uma saúde frágil,
mas foi admitida no noviciado.
Sempre
disposta aos trabalhos mais pesados, ela passava a maior parte do tempo
lavando ou na cozinha. Mas, dois dias por semanas revivia a Paixão de Jesus:
Mariam recebia os estigmas (que na sua simplicidade acreditava ser uma
enfermidade) e toda classe de graças extraordinárias começaram a
manifestar-se. Algumas irmãs ficaram desconcertadas com o que se passava com
ela, e, ao final de dois anos de noviciado, não é admitida na Congregação.
Em 14 de
junho de 1867, Mariam entrou no Carmelo de Pau (Baixo Pirineus), apresentada
por sua antiga mestra de noviciado, Irmã Verônica da Paixão, que declarou: "esta
pequena árabe é um milagre de obediência".
Em 27 de
julho de 1867 tomou o hábito carmelitano adotando o nome de Maria de Jesus
Crucificado. A sua condição de analfabeta a colocava entre as conversas e
para ela, que aspirava somente servir, assim estava bem. Mas foi decidido
colocá-la entre as coristas, e a obrigaram a aprender a ler e a escrever,
porém sem sucesso. Em 1870 voltou a ser conversa.
Em 1870, com
um pequeno grupo de Irmãs, Mariam parte para a Índia, para fundar o primeiro
mosteiro de carmelitas daquele país, em Mangalore. A viagem de barco foi uma
aventura e três religiosas morreram antes de chegarem. Reforços são enviados
e no final de 1870 a vida claustral pode ser iniciada.
Os fenômenos
extraordinários, que ela procurava esconder, continuaram na terra de missão.
Ao mesmo tempo ela era a alma da fundação, enfrentando todos os trabalhos
pesados e dando atenção aos problemas inerentes a uma nova fundação. Durante
seus êxtases, as irmãs às vezes podiam ver seu rosto resplandecente na
cozinha ou em outro local. Mariam participava em espírito dos acontecimentos
da Igreja, por exemplo, nas perseguições na China. Parecia estar possuída
exteriormente pelo demônio, que a fazia viver terríveis tormentos e combates.
A superiora
e o bispo, porém, começam a duvidar da autenticidade das manifestações
extraordinárias, acusando-a de visionária, de ter uma imaginação oriental
muito ardente, etc. Apesar das tensões, ela emitiu os votos no término de seu
noviciado, em 21 de novembro de 1871. Como as tensões continuassem, ela foi
enviada de volta ao Carmelo de Pau em setembro de 1872. As Irmãs que a
perseguiram reconheceram mais tarde o seu erro e expressaram o seu
arrependimento.
Em Pau ela
retomou sua vida simples de Irmã conversa, feita de muito trabalho entremeado
de episódios prodigiosos. Dom de profecia, ataques do demônio ou êxtases,
entre todas essas graças divinas ela sabe, de maneira muito profunda, ser
‘nada’ diante de Deus, e quando fala dela mesma se chama "o pequeno
nada", é realmente a expressão profunda de seu ser.
Iletrada
como era, encantada com a natureza, compunha belíssimas poesias e inventava
melodias para cantá-la. É bom frisar que todos os fatos extraordinários são
vividos por Irmã Maria com grande humildade e simplicidade. Muitas pessoas a
procuravam para serem reconfortadas, aconselhadas, e pedir orações.
Em 28 de
junho de 1873, pela manhã, a Priora a encontrou sentada em um pequeno banco
diante de uma janela aberta: "Madre - ela disse - todos
dormem. E Deus, tão cheio de bondade, tão grande, tão digno de louvores, é
esquecido!... Ninguém pensa nEle!... Vede, a natureza O louva; o céu, as
estrelas, as árvores, as ervas, todas as criaturas O louvam; porém o homem,
que conhece seus benefícios, que deveria louvá-Lo, dorme!... Vamos, vamos,
despertemos o universo! Jesus não é conhecido, Jesus não é amado!"
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