A existência do Purgatório é um Dogma de Fé Católico. Além disso, é uma necessidade e, ao contrário do que possa parecer, grande prova da infinita misericórdia divina |
O purgatório é
uma invenção da Idade Média? Infelizmente, muitos pregadores católicos e
professores de teologia têm repetido essa afirmação absurda, ignorando que o purgatório é um dogma - estabelecido
pelos Concílios Ecumênicos de Florença e de Trento [1] - e que, portanto, está
enraizado na própria fé dos apóstolos. Se é verdade que a existência do
purgatório não está explicitamente consignada na Bíblia, é preciso recordar que
esta não é a única fonte de fé da Igreja. Não é necessário, portanto, que todos
os dogmas estejam claramente nas Escrituras, mas sim na fé apostólica, que é o
fundamento da própria Bíblia.
A devoção à Virgem do Carmo é muito associada à devoção às Benditas Almas do Purgatório. |
De fato, de
muito cedo vem o costume de rezar pelos falecidos. Atesta-o o Segundo Livro dos
Macabeus, que indica como os judeus piedosamente suplicavam por seus entes
queridos [2]. Atestam-no as catacumbas dos primeiros cristãos, cheias de
inscrições com orações pelas almas dos mortos. Atesta-o, enfim, o testemunho de
todos os fiéis, de todos os séculos e de todos os lugares (quod semper, quod ubique, quod ab omnibus).
Como afirma Santo Tomás
de Aquino, é inútil rezar tanto pelas almas que estão no Céu, tanto pelas que
estão no inferno, já que ambas estão em seu destino definitivo. Se a Igreja
sempre rezou pelas almas dos mortos, então, é porque sempre creu que, após a
morte, nem todas as pessoas salvas estão prontas para contemplar Deus face a
face.
O Santo Escapulário do Carmo é sinal de predileção da Virgem Maria para com os confrades carmelitas que estão no Purgatório. |
Foi Martinho
Lutero, no século XVI, quem, não querendo aceitar o purgatório, chegou a
rejeitar os próprios Livros dos Macabeus do Cânon das Escrituras. É que o
purgatório não cabe na religião protestante, cuja doutrina não aceita a
santidade humana. Para eles, todos os homens são profundamente pecadores e irão
entrar no Céu ainda profundamente pecadores, com Deus olhando tão somente para
a sua fé. Com isso, o protestantismo “sacramentou” teologicamente a dificuldade
psicológica de Lutero, um homem que, atormentado por seus escrúpulos, não
conseguia viver a santidade.
Na Igreja
Católica, porém, existem numerosos exemplos de santos que, mesmo convertidos e
livres dos pecados mortais, continuavam a fazer penitência, pois sabiam que
precisavam purificar-se dos “resquícios” dos pecados cometidos (reliquie peccati) que ainda ficavam em
sua alma. Para detectar isso, basta olhar para dentro de si mesmo e perceber
que aí existe uma desordem. O que a Igreja diz - e que é bastante lógico - é
que essa desordem não pode entrar no Céu.
Nossa Mãe Santa Teresa era muito devotada a rezar pelas Almas do Purgatório. |
O fato de a
reflexão teológica a respeito do purgatório se ter desenvolvido plenamente na
Idade Média não quer dizer que o purgatório foi inventado nessa época. Se a
palavra própria para designar o estado de purificação das almas depois da morte
só veio em tempos medievais, isso não significa que só na Idade Média os
cristãos começaram a crer nessa realidade. Assim como nós já existíamos, antes
mesmos de os nossos pais nos darem um nome.
Referências
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1030;
Concílio de Florença, Decr. pro Graecis: DS 1304; Concílio de Trento, Sessão
25ª, Decretum de purgatorio: DS 1820: Sess. 6ª. Decr. de iustificatione, canon
30: DS 1580
Cf. 2 Mc 12, 39-45
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