CARISMA CARMELITANO

CARISMA CARMELITANO EM SANTA TERESA DE JESUS, SÃO JOÃO DA CRUZ E
SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS

Falar de Carisma Carmelitano é, sem dúvida, falar de espiritualidade, ou melhor, falar de uma espiritualidade específica dentro da Igreja que possui em seu interior várias expressões e modos de espiritualidade. Enquanto estamos evoluindo como pessoas nesta terra, necessitamos de espiritualidade, de um caminho essencial para se encontrar com Deus. Os homens e as mulheres de todos os tempos foram e são intimados a buscar dentro de si mesmos motivações para construir um mundo novo baseado nos princípios do Evangelho. Os santos carmelitas, ao fazerem sua releitura do Evangelho, acabaram por atualizar a sua mensagem dentro do contexto vivido, dando-lhe um novo “rosto”, sem, contudo deixar de lado a essência da Boa - nova de Jesus.
O Carmelo tem o seu carisma próprio. Assim como outras ordens, congregações e sociedades de vida apostólica também possuem sua identidade e fisionomia, o Carmelo possui um patrimônio espiritual que é chamado a renovar constantemente, numa “fidelidade criativa”. Somos chamados a voltar às fontes e renovar-nos por meio de um processo de conversão, para que o espírito de Santa Teresa, São João da Cruz, Santa Teresinha e demais santos do Carmelo permaneça sempre vivo, seja mais atraente para o mundo de hoje e seja capaz de suscitar entusiasmo, admiração e desejo de imitação nos corações de tantos jovens de todos os tempos.

O Carisma em Santa Teresa de Jesus: a oração é o caminho para se chegar a Deus

A oração é o tema central da mensagem de Santa Teresa; sua primeira lição. Foi igualmente o ponto central de sua experiência: a aventura de seu drama pessoal e a dimensão mais funda de sua interioridade. Na oração a Santa se serviu para explicar o mistério da vida cristã e assim expô-la a seus leitores. Somente isso bastaria para justificar a atualidade de sua lição, pois hoje o que nos preocupa é justamente o tema da oração. A atualidade da oração teresiana não somente consiste que suas palavras tenham chegado até nós de uma forma viva, com sentido para nosso espírito, mas consiste numa confrontação diante de nossa crise oracional.
A experiência teresiana da oração relatadas em várias de suas obras, principalmente no Livro da Vida, no Caminho de Perfeição e nas Moradas, mostra o itinerário da Santa que coincide com três situações características do cristão diante de Deus: a oração espontânea, a oração difícil e a oração infusa (recebida e quase que imposta de cima).
Através deste caminho evolutivo na oração, santa Teresa de Jesus vai mais além: ela nos aponta o caminho do castelo interior, fazendo com que a imagem do Deus distante medieval dê lugar à concepção de que Ele está em nós e busca comunhão e vida com seus filhos. Estes para adentrarem ao mistério insondável de Deus devem passar pela porta da oração. Eis, portanto, a chave da passagem do contraste para a harmonia, pois como ela diz, a oração é “um trato de amizade com Deus”. Ao orarmos encontramos com nosso verdadeiro eu, sem máscaras nem fingimentos diante do Absoluto.

O Carisma em São João da Cruz: a “ditosa ventura” de encontrar a Deus na liberdade humana

São João da Cruz apresenta-nos a vida mística como caminho para a verdadeira liberdade. Ele projeta a perfeição como escalar uma alta montanha que chama de Carmelo. Escalar a montanha é fácil no início, mas torna-se cada vez mais difícil à medida que se sobe. Por isso os que chegam ao topo são sempre uns poucos e corajosos que tiveram a ousadia de enfrentar todas as dificuldades e não se deixaram desanimar. Não pegar nem o caminho da direita e nem o da esquerda onde se encontram os prazeres da terra e do espírito, mas tomar o caminho central onde está escrito por todo lado: Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada... O nada de João da Cruz não é negativo, mas é positivo: é necessário renunciar a tudo para possuir tudo.
Quem consegue chegar ao cimo da montanha respira ar novo, purificador; sente-se totalmente livre e experimenta a maior liberdade. Porque no cimo da montanha existe somente a honra e a glória de Deus, e para o justo não há lei.
O Carmelita deseja viver esta liberdade interior, não ter mais nada que possa prendê-lo, porque o seu coração está totalmente entregue e possuído por Deus, que é amor e liberdade. João da Cruz, com sua sabedoria, diz: “Que um passarinho esteja preso por uma corda ou por uma linha é a mesma coisa, não pode voar”.
Quer sejamos escravos de grandes paixões ou de pequenas paixões o resultado será o mesmo: seremos escravos. O desejo de ser livre é o mais íntimo e profundo do ser humano. A liberdade é o domínio de si mesmo, das próprias paixões e desejos. É livre quem sabe ser “dono e senhor de seus atos e não se deixa escravizar por nada, e ninguém”. A liberdade nasce dentro de nós e floresce no deserto. Somos educados na liberdade na medida em que sabemos superar as forças do mal e conseguimos estabelecer equilíbrio entre os instintos da carne e os desejos do espírito. No Carmelo, na escola principalmente de S. João da Cruz, aprende-se o caminho da noite e da ascese. Somente caminhando na noite se chega à alegria da experiência da liberdade que se encontra na fusão do nosso ser com Deus, onde todas as amarras do pecado são quebradas.
Este sonho e ideal de liberdade faz-se cada vez mais forte no coração de quem busca com sinceridade o Senhor. A proposta do Carmelo é que homens e mulheres sejam livres, não dominados pelas paixões, pelos desejos da carne, do poder e possa fazer florescer os frutos do Espírito. Uma proposta de liberdade: “voltar à extrema simplicidade”, numa austeridade escolhida e querida. Não sermos escravos do consumismo, mas sabermos que todas as coisas devem ser um meio e não um fim em nossas vidas. Na busca da liberdade é necessário libertar-se de tudo o que torna duro e pesado o nosso caminho. As propostas do Carmelo são evangélicas: somente no encontro pessoal com Deus será possível vivenciar a verdadeira liberdade. A liberdade nasce no deserto: mais despojados somos e mais seremos livres.

O Carisma em Santa Teresinha: Viver de Amor através da pequena via

Uma das maiores contribuições que Santa Teresinha deu aos cristãos em nossa época, foi a de mostrar de um modo simples e concreto, que a santidade é acessível a todos, pois tal é a vontade de Deus a nosso respeito, que nos diz pela boca de Jesus no Evangelho: “sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5, 48).
Após tentar seguir o caminho de santidade próprio da Vida Religiosa de sua época, fundado no “heroísmo ascético” e nas mortificações, ela descobrirá que Deus lhe reservava um outro caminho, pois ela tinha um grande desejo de ser santa, mas não conseguia seguir o caminho das grandes penitências e sacrifícios. E após longo tempo de crescimento na arte de “conviver e aceitar as próprias limitações”, em setembro de 1894, Teresa descobrirá nas Escrituras a sua “pequena via”. Nela, Teresa finalmente encontra a solução do problema que a afligia, e descobriu que a santidade não é fruto dos nossos esforços, mas dom gratuito de Deus, que nos faz participantes de sua vida divina. Em outras palavras, descobre que “da parte do homem, ele deve aceitar de forma concreta sua pobreza, não com um gesto indiferente, mas com profunda humildade, digna de Deus. Para pertencer ao número dos convidados deve comportar-se como “pequenino”, confessar-se que é necessitado, e “ir a Deus”. Isso quer dizer que reconhece Deus como aquele que vem ao seu encontro com misericórdia, e com confiança cega se entrega a Ele. Essa cegueira é a lucidez mais alta do abandono misericordioso. O homem abandona a si mesmo e se abandona em Deus. Ele abre mão de si para se abandonar nas mãos de Deus”.
Todavia, ao colocar no centro de sua busca da santidade a confiança e abandono nas mãos de Deus, isso não quer dizer, que Santa Teresinha desconheça a necessidade de colaborar com a graça de Deus. O que ela faz é tirar o enfoque do ato “de fazer grandes obras”, que colocava a santidade como algo extraordinário, para colocá-lo na intenção: “de que por mínimas que sejam as coisas que fazemos no nosso dia-a-dia, que as façamos por amor”.
Portanto a grande característica da “pequena via” de Teresinha, é ser ela um caminho que pode ser seguido por todos, pois é um caminho de simplicidade que não exige nem êxtases e nem penitências extraordinárias, mas somente a sabedoria de revestir de amor todas as atividades da nossa vida, até mesmo as mais ordinárias, pois “... Jesus não olha para a grandeza das ações e nem mesmo para a sua dificuldade, mas para o amor que preside estes atos...” (Carta 65, a Celina, 20 de outubro de 1888).
E depois de dedicar toda a sua vida, e no escondimento de seu mosteiro, fazer pequenos sacrifícios e pequenas ações por amor de Jesus, ela pode dizer-nos, que: “...o menor ato, o mais oculto, feito por amor, tem muitas vezes, mais valor que as grandes obras. Não é a santidade aparente das ações que vale, mais unicamente o amor que se põe nelas. Ninguém poderá dizer que não pode dar essas coisinhas a Deus, pois estão ao alcance de todos” . E sem dúvida, Santa Teresinha cumpriu a promessa que fizera, pouco tempo antes de morrer:
“...sinto que a minha missão vai começar, a minha missão de fazer amar o bom Deus como eu o amo, de ensinar a minha pequena via às almas” pois em toda a Igreja e mesmo fora dela, atraiu uma verdadeira “legião de pequenas almas” que se descobriram vocacionadas à santidade, devido a sua influência e o seu testemunho.

V Encontro de Jovens da OCDS

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