PERFIL DE UM CARMELITA SECULAR

ORDEM DOS CARMELITAS DESCALÇOS SECULARES
PERFIL DE UM CARMELITA SECULAR
Elementos para o discernimento da vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Pe. Aloysius Deeney, OCD
Delegado Geral


O ponto de partida para esta colocação é responder à pergunta: Quais são os princípios que se usa para discernir a vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares? Quem é chamado a ser um Carmelita Secular e, como você distingue entre os que são chamados e os que não são chamados?
Entre os frades e as monjas, as pessoas não saem por serem más pessoas. As pessoas não são mandadas embora do mosteiro (ou do convento) por serem moralmente inaceitáveis. Ser membro da Ordem é uma vocação, e uma vocação que precisa, para o bem de todos, ser claramente identificada. De outro modo, a Ordem – sejam os frades, ou as monjas, ou os seculares se desvia de seu caminho, confunde sua identidade.
Eu descreveria um membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e Santa Teresa de Jesus como um membro praticante da Igreja Católica que, sob a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo e inspirado por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz, se compromete com a Ordem a buscar o rosto de Deus, para o bem da Igreja e do mundo.
Em tal descrição se distinguem seis elementos que, conjuntamente, são elementos que movem as pessoas a se aproximarem da Ordem e a buscar uma identificação com ela de uma maneira mais formal.
Membro praticante da Igreja Católica. Isto significa católico romano, não em referência ao rito latino, porém em referência à unidade sob a liderança do Bispo de Roma, o Papa.
A maioria dos católicos romanos pertence ao rito latino; entretanto, há outros ritos dentro da Igreja Católica Romana: maronita, malabar, melquita, ucraniano, etc.. Há comunidades da Ordem Secular em cada um destes ritos: a comunidade OCDS do Líbano pertence ao rito maronita.
A palavra praticante diz alguma coisa sobre a pessoa que pode ser membro da Ordem Secular. Como critério básico para identificar um praticante da fé católica sugiro determinar sua capacidade de participar plenamente na Eucaristia, com uma consciência limpa. A eucaristia é o cume da identidade e da vida católicas; é o ponto de encontro entre o céu e a terra. Assim, se alguém é livre para participar do cume, então os pontos menores são certamente permitidos.
Na maioria dos casos, no passado, isto era de fácil determinação. As pessoas que vinham à Ordem Secular procediam de paróquias onde os frades estavam presentes, ou tinham contatos com frades ou monjas que os recomendavam para a Ordem Secular. O divórcio não era um problema significativo na vida católica; a maioria das situações era transparente. Hoje em dia não é assim. As coisas não são sempre claras, e é precisamente aqui que o Assistente Espiritual pode ser de maior ajuda para o Conselho de uma comunidade da Ordem Secular, ajudando a fazer uma seleção dos candidatos.
Darei um exemplo. Uma mulher se aproxima de uma comunidade de Ordem Secular. Ela é conhecida de alguns do Conselho, e eles sabem que ela está em seu segundo casamento. Eles também sabem que ela vai regularmente à missa e participa dos sacramentos. O Conselho gostaria de ter mais esclarecimentos antes de admitir essa pessoa na formação.
Há poucas possibilidades neste caso. A primeira é que a Igreja tenha declarado nulo seu primeiro casamento. Outra possibilidade é que, por acordo com seu confessor, ela e seu marido vivam de tal modo que participem dos sacramentos da Igreja. Uma entrevista com o Assistente Espiritual esclareceria as respostas, sem necessidade de maiores explicações. Respeitando o direito à privacidade e a um bom nome de que todo membro da Igreja desfruta, ele daria uma palavra ao Conselho que permitiria a essa pessoa entrar para a Ordem Secular.
A Ordem Secular é, juridicamente, parte da Ordem dos Carmelitas Descalços. É uma instituição da Igreja Católica Romana e está sujeita às leis da Igreja. A Sagrada Congregação deve aprovar sua legislação própria. Então, alguém que não pertence à Igreja Católica não pode ser membro da Ordem Secular. As pessoas não-católicas interessadas na espiritualidade do Carmelo são certamente bem vindas para participar de qualquer maneira que a comunidade os convidar, mas não podem ser membros da Ordem Secular.
Aqui nós temos o primeiro elemento de identidade de um membro da Ordem Secular: uma pessoa que participa da vida da Igreja Católica. Há, certamente, mais, porque existem milhões de pessoas que participam da vida da Igreja Católica que não têm o menor interesse no Carmelo.
Chegamos ao segundo elemento: sob a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Não é qualquer devoção a Nossa Senhora que identifica a uma pessoa chamada à Ordem Secular. Há muitos cristãos que são muito devotos de Nossa Senhora e têm um caráter mariano altamente desenvolvido em sua vida cristã. Existem muitos cristãos ortodoxos, assim como anglicanos, que são verdadeiramente marianos. Há muitos católicos que usam o escapulário por razões válidas e com sincera dedicação a Maria, que não são chamados a serem Carmelitas Seculares. Não é só isso, mas há algumas pessoas que vêm à Ordem Secular precisamente por sua devoção a Maria, ao escapulário e ao rosário, que não têm vocação para a Ordem Secular.
O aspecto específico da Bem-Aventurada Virgem Maria que deve estar presente em qualquer pessoa chamada ao Carmelo é a inclinação a meditar em seu coração, frase que o evangelho de São Lucas usa duas vezes para descrever a atitude de Maria frente a seu Filho. Sim, todos os demais aspectos da vida e devoção marianas podem estar presentes – a devoção ao escapulário, o terço e outros. Eles são, todavia, secundários àquele aspecto da devoção mariana. Maria é nosso modelo de oração e meditação. O interesse em aprender a meditar ou a inclinação à meditação é uma característica fundamental de qualquer OCDS.
Talvez seja a mais fundamental.
Uma experiência freqüente em muitos grupos é a de ter pessoas que se aproximam da Ordem Secular para se tornarem membros – às vezes um sacerdote diocesano que é muito devoto de Maria, ou alguém que já tenha feito muitas peregrinações a santuários marianos em todo o mundo, ou uma pessoa que está muito familiarizada com muitas das aparições e mensagens atribuídas a Maria – verdadeira autoridade em movimentos marianos da atualidade. Muitas vezes essas pessoas não têm a menor inclinação para meditar em seu coração. Desejam tornar-se rapidamente “professores” da comunidade sobre a Bem-Aventurada Mãe e introduzem uma corrente mariana não-carmelitana na comunidade. Se essa pessoa é um sacerdote, é muito difícil para a comunidade proteger-se desse desvio em sua vida mariana. Há outros grupos marianos e movimentos que podem ser lugar para essa pessoa, porém não a Ordem Secular.
Além disso, na família Teresiano-Carmelitana há um lugar para aqueles cuja motivação primária é a devoção ao escapulário e a Nossa Senhora do Carmo. É a Confraria (ou Irmandade) do Escapulário ou a Confraria (ou Irmandade) de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Maria, para os membros da Ordem Secular, é o modelo de atitude meditativa e de disponibilidade. Ela atrai e inspira o Carmelita a um modo contemplativo de entender a vida do corpo místico de seu Filho, a Igreja. É ela quem atrai a pessoa ao Carmelo. E no programa de formação, que a pessoa conhece quando entra no Carmelo, este é o aspecto que deve ser desenvolvido na pessoa. Então, digo que este é o segundo elemento: sob a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
O membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa de Jesus é um praticante de qualquer dos ritos da Igreja Católica Romana que, sob da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo e inspirada por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz... Aqui nós temos o terceiro elemento. Mencionei ambos, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, e devo dizer, logo no início desta seção, que também posso incluir Santa Teresinha do Menino Jesus ou a Beata Elisabeth da Trindade ou Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), mas Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz são centrais para este ponto.
Tendo mencionado todos estes grandes personagens da tradição carmelitana, sublinho a importância de santa Teresa de Jesus, a quem, em nossa tradição, nos referimos como Nossa Santa Madre. A razão é porque a ela foi dado o carisma. Em muitas partes do mundo somos chamados Carmelitas Teresianos. São João da Cruz foi o colaborador original de Nossa Santa Madre tanto no aspecto espiritual quanto no aspecto jurídico da re-fundação do Carmelo neste novo caminho carismático; por isso é chamado Nosso Santo Padre. Para mim, é difícil imaginar um Carmelita Descalço, de qualquer ramo, que não seja atraído por um, que não o seja por ambos: suas histórias, suas personalidades e, o mais importante, seus escritos.
Os escritos de Santa Teresa de Jesus são a expressão do carisma dos Carmelitas Descalços. A espiritualidade dos Carmelitas Descalços tem um fundamento intelectual muito bem cimentado. Há uma doutrina envolvida aqui. Doutrina vem de docere, palavra latina que significa ensinar. Qualquer pessoa que queira ser Carmelita Descalça deve ser uma pessoa interessada em aprender dos Mestres do Carmelo. Há três carmelitas Doutores da Igreja Universal: Teresa, João e Teresinha.
Uma pessoa vem à comunidade. É uma pessoa com um grande amor pela Bem-Aventurada Mãe e quer vestir o escapulário em honra de Maria como um sinal de dedicação a seu serviço. Esta pessoa é muito orante, porém não tem interesse em ler ou estudar a espiritualidade do Carmelo Teresiano. Esta pessoa tenta ler um dos doutores Carmelitas, porém simplesmente não tem interesse em continuar lendo. Para mim, é uma boa pessoa, que pode pertencer à Irmandade do Escapulário, mas definitivamente não tem vocação para a Ordem Secular do Carmelo.
Este é um aspecto acadêmico da formação de um Carmelita Teresiano. Há uma base intelectual na espiritualidade e na identidade de quem é vocacionado para a Ordem.
E, como acontece com cada frei e cada monja, cada Secular representa a Ordem. Um Carmelita que não tem interesse em estudar ou aprofundar as raízes de sua identidade por meio da oração e estudo perde sua identidade e não pode mais representar a Ordem. Também não fala pela Ordem. Muitas vezes, quando ouvimos um Carmelita falar, torna-se óbvio, enquanto escutamos o que é dito, que ele não foi além do que aprendeu na formação, anos atrás.
Esta base intelectual é o princípio de uma atitude de abertura ao estudo. Ela leva a um interesse mais profundo na Escritura, teologia e documentos da Igreja. A tradição da leitura espiritual, a lectio divina e tempo para estudar são a coluna vertebral da vida espiritual. Boa formação depende de boa informação. Quando a informação é ruim, ou ausente, ou incorreta, a formação é interrompida ou atrasada, tendo como resultado confusão para o Secular. Se esse Secular, por algum acaso, torna-se de algum modo representante de uma comunidade OCDS, a comunidade sofre. Isto acontece com os freis, com as monjas e também acontece com os Seculares.
Esta base acadêmica ou intelectual é muito importante e está, infelizmente, ausente em muitos grupos da Ordem Secular. Não é uma questão de “ser intelectual” para ser Secular. É uma questão de ser inteligente na busca da verdade sobre Deus, sobre si mesmo, sobre a oração, sobre a Ordem e sobre a Igreja. A obediência, desde longa data, tem sido associada com o intelecto e a virtude da fé. Obediência significa abertura para ouvir (ob + audire, em latim). É uma atitude radical da pessoa, para ir além do daquilo que ela já sabe. Educação também vem do latim (ex e ducere = levar para fora de). Santa Teresa descreve a pessoa da terceira morada como quase presa e incapaz de se mover. Uma das características desta pessoa, permanentemente na terceira morada, é que ela quer ensinar todo mundo: ela sabe tudo. Na realidade, ela é desobediente e não pode ser educada. Isto é, ela está fechada e incapaz de aprender.
O quarto elemento da descrição é: quem faz o compromisso com a Ordem. Há muitos católicos comprometidos, que são devotos de Maria e até mesmo experts em Santa Teresa, São João ou em um de nossos santos e não têm vocação para Ordem Secular. Estas pessoas podem ser contemplativas ou quase ermitãs, gastando horas na oração e no estudo cada dia, mas não têm vocação para serem Carmelitas. Qual é o elemento que distingue estas pessoas daquelas chamadas a seguir Jesus Cristo mais de perto como Carmelitas Seculares?
Não é a espiritualidade, nem o estudo, nem a devoção a Maria. Expondo de maneira simples, o Carmelita Secular é movido a comprometer-se com a Ordem e com a Igreja. Este compromisso, na forma das Promessas, é um acontecimento eclesial e um acontecimento da Ordem, além de ser um acontecimento na vida da pessoa que faz as Promessas. Em certo sentido, tendo sempre em mente os contextos particulares de família, trabalho e responsabilidades que estão presentes em sua vida, a pessoa que faz o compromisso passa a ser caracterizada como Carmelita.
Como disse, é um acontecimento eclesial e um evento da Ordem. É por essa razão que a Igreja e a Ordem têm uma palavra essencial, em união com o candidato, na aceitação e aprovação do compromisso da pessoa. É também por essa razão que a Igreja e a Ordem dão as condições e estabelecem os termos contidos nas Promessas. É possível que uma pessoa queira comprometer-se a certas coisas, meditação diária e o ofício divino, por exemplo. Porém a Igreja, por meio da Ordem, estabelece as linhas básicas e gerais para entender esta compromisso.
O Secular pertence ao Carmelo. O Carmelo não pertence ao Secular. O que quero dizer com isso é que há uma nova identidade, desenvolvida a partir da identidade batismal, que se torna, necessariamente, ponto de referência. Assim como a Igreja é ponto de referência para a pessoa batizada (a pessoa batizada pertence à Igreja), o Carmelo passa a ser ponto de referência para o Secular. Quanto mais “católico” alguém se torna, mais reconhece a universalidade da Igreja. Da mesma forma, quanto mais “Carmelita” alguém se torna, mais reconhece a universalidade do Carmelo.
De fato, a pessoa que se compromete com o Carmelo na Ordem Secular descobre que o Carmelo se torna essencial à sua identidade como católico.
É porque as Promessas são o meio pelo qual alguém se torna membro da Ordem Secular que a formação para as Promessas é tão importante – formação e formação permanente.
Um aspecto importante deste compromisso é o compromisso com a comunidade. Uma pessoa que deseja ser membro da Ordem Secular deve ser capaz de formar comunidade, de ser parte de um grupo que está dedicado a uma meta comum, mostrar seu interesse pelos outros membros, ser capaz de apoiar outros na busca de uma vida de oração e ser capaz de receber o apoio de outros. Isto se aplica mesmo àqueles que, por várias razões, não podem participar ativamente de uma comunidade. Na formação com vistas ao futuro da comunidade, esta característica social é uma das que devem ser desenvolvidas. Há pessoas que são introvertidas e quietas, mas são muito sociáveis e capazes de formar comunidade. E há pessoas que são muito extrovertidas e ao mesmo tempo incapazes de formar comunidade. Nesta questão é necessário usar o bom senso. Responda à seguinte questão: daqui a dez anos, com a ajuda desta pessoa, o que a comunidade será?
Há também a questão de pessoas que pertencem a outros movimentos: Catecumenato, Focolares, Movimento Mariano de Sacerdotes, Renovação Carismática, por exemplo. Se o envolvimento da pessoa não interfere com seu compromisso com o Carmelo e se a pessoa não introduz na comunidade elementos incompatíveis com a espiritualidade OCDS, então, em geral, não há problema. Quando a pessoa desvia a comunidade de seu propósito e estilo de vida espiritual que os problemas começam. Algumas vezes há pessoas tão confusas que elas vêm ao Carmelo e falam sobre Nossa Senhora de Medjugorie. E vão a um encontro de Medjugorie e falam sobre oração teresiana.
O ponto mais importante é: a pessoa deve escolher a Ordem Secular. Este compromisso deve ser mais importante do que outros movimentos ou grupos.
Este compromisso com a Igreja mediante o Carmelo tem tanto um conteúdo, quanto um propósito. Eles estão expressos nos dois últimos elementos de minha descrição de quem é um Carmelita Secular.
O quinto elemento é buscar o rosto de Deus. Este elemento expressa o conteúdo das Promessas. Eu poderia reformular este elemento de várias formas: rezar, meditar, viver a vida espiritual. Escolhi este porque é bíblico e expressa a natureza da contemplação: observar maravilhado a palavra e a obra de Deus para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo. O aspecto contemplativo da vida carmelitana deve concentrar-se em Deus, reconhecendo sempre que a contemplação é dom de Deus, não uma aquisição resultante do dedicar bastante tempo a essa tarefa. Este é o compromisso com a santidade pessoal. O Carmelita Secular deseja ver Deus, deseja conhecer Deus e reconhece que a oração e a meditação adquirem grande importância. As Promessas são um compromisso com um novo modo de vida, no qual a fidelidade a Jesus Cristo marca a pessoa e a maneira como ela vive.
A vida pessoal do Carmelita Secular se torna contemplativa. O estilo de vida muda com o crescimento nas virtudes que acompanha o crescimento no espírito. É impossível viver uma vida de oração, meditação e estudo sem mudanças. Este novo estilo de vida melhora todo o resto da vida. A maioria dos membros da Ordem Secular que são casados, e aqueles com famílias, experimentam que o compromisso com a vida carmelitana na OCDS enriquece seu compromisso matrimonial e familiar. Homens e mulheres Carmelitas Descalços Seculares que trabalham experimentam um novo compromisso moral pela justiça no lugar de trabalho. Os que são solteiros, viúvos ou separados encontram neste compromisso com a santidade uma fonte de graça e força para viver suas vidas com dedicação e propósito. Isto é o resultado direto de buscar o rosto de Deus.
A oração é a essência do Carmelo? Muitas vezes ouvi ou li esta afirmação. Nunca tenho muita certeza de como respondê-la. Não porque não saiba o que é a oração ou porque a oração não seja de grande importância para qualquer Carmelita, mas porque nunca sei o que o orador ou escritor quer justificar com seu enunciado.

Se para a pessoa oração quer dizer santidade pessoal e a busca de uma espiritualidade genuína que reconhece a supremacia de Deus e da vontade divina para a família humana, então sim, eu concordo. Se a pessoa quer dizer que eu, como Carmelita, realizo minha inteira obrigação de Carmelita sendo fiel à minha oração e que não há nada mais que eu precise fazer, então não, não estamos de acordo. Santidade pessoal não é o mesmo que busca pessoal de santidade. Para um membro batizado da Igreja a santidade é sempre eclesial, nunca egoísta ou apenas para satisfação própria. Nunca sou juiz de minha própria santidade (Nemo judex in causo suo).
Sou santificado pela prática das virtudes. Isto é resultado direto de uma vida de busca orante de Deus em minha vida. Este é o segredo Carmelita: a oração não nos torna santos. A oração é um elemento essencial na santidade cristã (carmelitana) porque é o contato freqüente e necessário para permanecer fiel a Deus. Este contato permite a Deus fazer sua vontade em minha vida, a qual então anuncia ao mundo todo a presença de Deus e sua bondade. Sem o contato da oração não posso conhecer a Deus, e Deus não pode ser conhecido por outros.
Buscar o rosto de Deus requer um inacreditável quantidade de disciplina no sentido clássico e original da palavra (discípulo – alguém que aprende). Devo reconhecer que sou para sempre um estudante. Nunca me torno um mestre. Sou sempre surpreendido com a ação de Deus no mundo. Deus é, para sempre, mistério. As pistas da existência de Deus sempre me interessam; eu as encontro em todos os momentos da vida, como solteiro, viúvo, casado, na família, no trabalho e na solidão. Porém, elas só se tornam reconhecíveis e claras por meio da oração, observando a partir do coração. O chamado à santidade é um desejo ardente no coração e mente daquele que é chamado à Ordem Secular. É um compromisso que o Secular deve assumir. O Secular é atraído pela oração, achando na oração um lar e uma identidade.
Esta oração, esta busca de santidade, este encontro com o Senhor tornam o Secular mais consciente do seu ser parte da Igreja. E, como membro mais comprometido com a Igreja, a vida do Secular é mais eclesial. À medida que a vida de oração cresce, ela produz mais frutos na vida pessoal (crescimento da virtude) e na vida eclesial (apostolado) do indivíduo.
Isto me leva ao sexto elemento da descrição: para o bem da Igreja e do mundo. Esta é a novidade no entendimento do lugar do Secular na Ordem e na Igreja. É o resultado do desenvolvimento da teologia da Igreja sobre o papel dos leigos na Igreja, e da aplicação dessa teologia à Ordem. Começando com o documento do Concílio Vaticano II Apostolicam Actuositatem – Sobre o Apostolado dos Leigos e seus frutos, os Sínodos sobre os Leigos, em 1986, e sobre a Vida Consagrada, em 1996 (Christifidelis Laici e Vita Consecrata), a Igreja tem sublinhado constantemente a necessidade de um mais aprofundado compromisso dos leigos para com suas necessidades e as necessidades do mundo. Santa Teresa tinha a convicção de que a única prova da oração era o crescimento nas virtudes, e que o fruto da vida de oração era o nascimento de boas obras.
Às vezes ouço um Secular dizer: o único apostolado do Secular é a oração. A palavra que torna esta afirmativa falsa é “único”. Uma atitude orante e obediente aos documentos da Igreja nos faz ver claramente que o papel do leigo na Igreja mudou. A Regra de Vida fala sobre a necessidade de cada Secular ter um apostolado individual. A Christifidelis laici ressalta a importância do apostolado de grupo das associações na Igreja, e a OCDS é uma associação na Igreja. Muitos Seculares, quando ouvem mencionar o apostolado de grupo, pensam que estou falando sobre a comunidade inteira estar envolvida em algo que toma horas e horas de cada dia. Não é isto, em absoluto, o que “apostolado de grupo” quer dizer. O parágrafo 30 da Christifidelis laici dá os princípios básicos de eclesialidade para as associações e faz uma lista dos frutos desses princípios. O primeiro fruto da lista é um desejo renovado pela oração, meditação, contemplação e vida sacramental. Estas estão “bem dentro do caminho do Carmelo”. Quantas pessoas precisam saber o que nossos carmelitas Doutores da Igreja têm a dizer! Se cada carmelita se dedicasse a propagar a mensagem do Carmelo, quantas pessoas evitariam confusão em sua vida espiritual! Entre em uma grande livraria e você verá quanta bobagem está classificada na seção “Misticismo”.
Cada comunidade tem que responder, como comunidade, a esta pergunta:
Que podemos fazer para compartilhar com outros o que temos recebido por pertencer ao Carmelo?
Nós, como Carmelitas, podemos ajudar a esclarecer essa bagunça tornando conhecido o que sabemos. Isto não é uma opção. É uma responsabilidade. Ser Carmelita não é um privilégio. É uma responsabilidade, tanto pessoal quanto eclesial.
Como disse no começo, não é só um elemento que ajuda no discernimento da pessoa que tem a vocação para a Carmelo como Secular. É a combinação de todos estes elementos que faz a diferença!
V Encontro de Jovens da OCDS

Um comentário:

  1. meu nome é Luciana,sou casada tenho 2 filhos, sou serva da RCC, e da SAV(serviço de animação vocacional), sempre gostei rezar, mais de 1 ano pra cá , o desejo pela oração tem crescido , venho sendo atraida, por um profundo desejo de oração, e um misterioso chamado de Jesus, de que eu me consagre totalmente a Ele, me fez buscar respostas. Primeiro com Santa Terezinha, lí seu livro "história de uma alma", e pude ouvir sua voz dentro do meu coração, dizendo que deveria ajudá-la a salvar almas..depois li o livro "caminho de perfeição" de Sta. Tereza, comecei a buscar na minha vida fazer este caminho...já encomendei o "livro da vida" para ter maior conhecimento sobre a vida contemplativa... Deus em minhas orações em leva a contemplação, sem que eu queira, sou atraida pelo seu amor, de uma forma tao profunda... sinto dentro de mim um desejo de ver a face de Deus, de conhecimento de Deus, da vida dos Santos, que sou apaixonada, tenho profundo amor por eles, e tbm me seinto amada e apadrinhada por eles, especialment Pe. Pio e Sta Terezinha de Jesus...queria aprender a viver uma vida contemplativa, já que muitas vezes nao sei lidar com isso...preciso de uma direção espiritual...vcs podem me ajudar? luz-marini@hotmail.com

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